Praça da Igraja, anos 80 - foto: Antonio Kehl

O Início do Arraial d’Ajuda

Fonte: Arraial d’Ajuda em Cantos e Contos.

Em 1549, uma frota sob o comando de Tomé de Souza, chegou à baía de Todos os Santos. Dela fazia parte a nau DAJUDA, que trazia a imagem de Nossa Senhora d'Ajuda. Essa nau chegou à região de Porto Seguro no final daquele ano, quando foi iniciada a construção de uma capela bem simples, coberta de palha, situada no alto de um platô a cerca de quarenta metros de altura e com uma exuberante vista para o mar. Isso mesmo... essa capela viria a se tornar a Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda

Após algumas tentativas seguidas por desmoronamento, dizem que, de repente, apareceu uma nascente bem ao lado da construção da Igreja, facilitando o acesso à água e contribuindo para que, finalmente, a Igreja fosse construída. Com localização estratégica para uma fácil defesa em caso de ataques a Igreja foi construída de frente para a Praça, com as casas geminadas ao redor. Essa praça, a Igreja e as chamadas “Casas da Santa” foram o núcleo formador do Arraial d’Ajuda.

Ladeira da Santa, anos 80 - procurando o autor da foto

Os índios na Capitania de Porto Seguro

Fonte: Experiências e Ação Política Indígena na Capitania de Porto Seguro – Uiá Freire Dias dos Santos.

A exploração indígena foi algo considerado primordial pelos portugueses desde o início da Capitania de Porto Seguro. Tendo na atividade extrativista seu principal negócio, obrigavam os índios a percorrer a mata para localizar, derrubar e transportar o pau-brasil até as embarcações. Entretanto, os índios de Porto Seguro eram firmes em rejeitar a colonização, sendo relatados ataques indígenas constantes devido à exploração do trabalho imposto pelos colonizadores.

A resistência indígena, infelizmente, foi seguida de muita violência durante o governo de Men de Sá (1557-1572), que acabou por forçar parte dos indígenas a aceitar o aldeamento como forma de sobrevivência. Formaram-se então “aldeias de evangelização”, onde os índios eram obrigados a ter maior convívio com os europeus e um estilo de vida baseado no sedentarismo e em costumes completamente diferentes dos seus, incluindo ainda a catequização.

Com toda essa pressão e opressão os índios viam como única alternativa a fuga, tornando esses lugares zonas de intenso conflito. Em meio a tudo isso, a primeira década do século XVII foi marcada por revoltas e ataques indígenas nos aldeamentos, em especial entre as capitanias de Ilhéus e Porto Seguro. A gravidade do problema foi tão grande aqui na região que culminou num pedido de socorro aos padres que administravam capitanias em outras partes da América.

Infelizmente por muito tempo observou-se uma certa ausência no interesse de historiadores em pesquisar e analisar a fundo a ação indígena na história da capitania de Porto Seguro, porém, isso já começou a mudar nos últimos anos! Mesmo que tenhamos ainda poucos estudos sobre a temática, é fato que a história de Porto Seguro é fortemente marcada pela ação indígena, que por vezes colaborou, e muitas outras resistiu à colonização portuguesa, contribuindo para formação de tudo que somos hoje, desde o âmbito cultural, hábitos alimentares até os princípios e valores da nossa nação.

É com muito orgulho que contamos um pouquinho da força dos índios que habitaram nossa região no período colonial e que, por sua braveza, conseguiram fazer perdurar sua cultura até os dias de hoje! Não deixe de visitar uma das aldeias da nossa região e conhecer um pouco mais de perto a cultura, costumes e tradições dos Índios Pataxós... quem sabe você ainda consegue aprender algumas palavrinhas em Patchoran.

Vista para a Bróduei, anos 80 - procurando o autor da foto

A Igreja e a Festa da Santa

Fonte: Arraial d’Ajuda em Cantos e Contos.

A Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda passou por várias reformas ao longo dos anos, sendo que em 1772 mudou significativamente, quando ganhou mais uma imagem da Santa. Em 1929 foi construído um reservatório que recebe a água da "fonte milagrosa" com um local onde os fiéis podem se molhar com a água da Santa, a nossa Fonte Sagrada, popularmente chamada de "Banheiro da Santa". Desde então e perdurando até os dias de hoje, diz a lenda que quem se molha na Fonte Sagrada, cria raízes no Arraial d'Ajuda e voltará sempre pra cá!

A Igreja de Nossa Senhora d'Ajuda juntamente com a Fonte Sagrada compõe o primeiro Santuário Mariano do Brasil.

A notícia da Santa e da água milagrosa que "brotou" ao lado da capela foi se espalhando e habitantes dos vilarejos próximos passaram a visitar o local da capela em busca de milagres. Foi então que a imagem da Santa passou a ser venerada no dia da ascensão à Virgem Maria, 15 de agosto, trazendo ao vilarejo muitos fiéis, festa e procissão, que se tornaram tradição até os dias de hoje.

A romaria de Nossa Senhora d’Ajuda é considerada a mais antiga do Brasil e foi o primeiro movimento turístico da nossa região. Os fiéis vinham até aqui a cavalo com tropa de animais ou mesmo a pé. E como forma de agradecimento aos milagres alcançados, passaram a trazer imagens, quadros e outros objetos, os quais constituem hoje a "Sala dos Milagres", localizada no interior da Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda.

A partir dos anos 90, a Festa da Santa, como é conhecida, passou a incorporar barracas para venda de roupas, sapatos, comidas, utensílios domésticos... além de trazer consigo shows musicais e parque de diversões. Uma festa com fortes raízes nordestinas que, oficialmente, se inicia no dia 06 de agosto, quando é realizada a primeira novena, e termina em 15 de agosto com a procissão.

Inicialmente a economia do Arraial d’Ajuda baseava-se em torno da pesca e da agricultura, em especial no cultivo da cana de açúcar e da mandioca, além do extrativismo da madeira. Só no século XVIII as culturas de café e cacau juntamente à carpintaria e construção naval passaram a fazer parte da economia local. Entretanto, era a peregrinação religiosa o principal destaque da região, movimentando a economia e influenciando a cultura dos arraianos.

Praça da Igreja, anos 80 - procurando o autor da foto

A Segunda Guerra Mundial e o Campo de Aviação

Fontes:
- Sob a Mira do Eixo: A Segunda Guerra Mundial no Extremo Sul da Bahia – Tharles S. Silva
- Arraial d’Ajuda em Cantos e Contos.

O Campo de Aviação do Arraial d’Ajuda criado em 1939, em comemoração aos 439 anos da chegada dos portugueses à América, foi inaugurado sob a liderança do empresário Assis Chateaubriand, contando com a presença de mais de 22 aeronaves reunidas no "Raid a Porto Seguro", à época o maior evento da aviação civil em toda América Latina.

Quem diria que aquela região plana, coberta de mangabeiras nativas e que servia como pasto para animais locais e para as tropas da romaria, viria a se tornar palco para receber aeronaves durante a Segunda Guerra.

Não é fato conhecido por muitos, mas a Segunda Guerra Mundial atingiu quase todo o litoral brasileiro, inclusive a costa do Extremo Sul da Bahia. Fato importante ocorreu em 1943, quando um cargueiro brasileiro, de nome Affonso Penna, navegava pelas águas calmas de Porto Seguro e encontrou em seu caminho um submarino italiano, o Barbarigo. Foi um encontro fatídico que deixou uma das mais sangrentas memórias em águas brasileiras. Esse ataque do Barbarigo afundou o Affonso Penna matando 125 pessoas. Os botes dos sobreviventes ficaram vagando durante dias até que parte deles acabou parando nas praias de Porto Seguro.

Moradores antigos do Arraial d’Ajuda relataram lembranças desse dia e de outros fatos que mostram como a Segunda Guerra marcou nossa região. Os relatos afirmam que àquela época havia cerca de 1500 soldados mineiros entre Belmonte, Porto Seguro e Caravelas e que não se podia acender uma lâmpada e nem mesmo um cigarro a noite. O toque de recolher e a proibição de luzes era uma tentativa de não fornecer referências aos submarinos das Potências do Eixo, que entre 1942 e 1943 navegavam pela costa baiana.

Já no final da década de 40 o Campo de Aviação passou a ser utilizado pelo Correio Aéreo Nacional e para alguns voos de companhias aéreas, funcionando como aeroporto da região até o final da década de 60, quando foi inaugurado o aeroporto de Porto Seguro. Devido à existência do Campo de Aviação, o fluxo de pessoas que passaram a vir para a região aumentou consideravelmente e com isso foram surgindo hospedarias, pensões, restaurantes... movimentando a economia local.

Desembarque da Balsa, anos 80 - foto: Vinicius Parracho

Anos 70, 80 e 90

Fonte: Arraial d’Ajuda em Cantos e Contos.

O crescimento da romaria somado ao movimento trazido pelo nosso "aeroporto" local já haviam contribuído para uma grande transformação na pacata vila de pescadores que um dia foi o Arraial d’Ajuda. Para completar, em 1973 houve a inauguração da BR-367 - estrada que liga Porto Seguro à BR-101 e uma reforma no aeroporto de Porto Seguro, tornando assim a chegada à nossa região muito mais fácil.

Exatamente nessa época observava-se em diversas regiões do mundo o chamado "êxodo urbano" ou movimento hippie, onde as pessoas queriam fugir dos centros urbanos e buscar lugares tranquilos e cheios de natureza para viver uma vida alternativa... eis que muitos adeptos ao movimento vieram parar bem aqui no Arraial d’Ajuda!

Interessante comentar que nessa época não tínhamos energia elétrica e nem serviço de água e esgoto aqui no Arraial. Uma moto bomba levava água da fonte Jaquara (que ficava na Rua do Mucugê) até o chamado chafariz (na Praça da Igreja), onde existiam torneiras para a coleta de água além de três chuveiros. Energia tínhamos apenas na Praça da Igreja, fornecida por um gerador entre as 18 e 22 horas.

Os moradores da época dormiam e acordavam cedo, não havia vida noturna, não havia luxo nem status social. Na baixa temporada, então chamada de "paradeiro" as atividades principais eram a pesca e a agricultura. A base da alimentação era peixe, carne de sol, raízes e cereais e, bem de vez em quando, um boi era abatido e havia carne fresca. Turismo era só no verão, quando o Arraial d'Ajuda era frequentado por jovens com objetivo de curtir a praia e de noite fazer rodas de viola, teatro ou simplesmente ver a lua atrás da Igreja.

Lagoa Azul, anos 90 - procurando o autor da foto

No final da década de 70, Licó abriu o Camping do Mucugê, onde então surgiu a primeira barraca de praia e a primeira rede de vôlei do Arraial d'Ajuda. Os primeiros luaus em volta da fogueira, regados à, hoje famosa, Cachaça do Vale Verde, aconteceram na antiga Pousada Cajueiro, onde hoje há um condomínio.

Somente em 1981 "chegou" a energia elétrica, que trouxe consigo grandes mudanças ao Arraial. Começaram a ser construídas várias pousadas, residências se transformaram em bares e restaurantes, surgiram diversas barracas de praia... muitas pessoas começaram a vir pra cá não só procurando paz e tranquilidade mas principalmente em busca de bons negócios. Observou-se um crescimento sem planejamento, que, infelizmente, trouxe consigo acúmulo de lixo, falta d'água e oscilações constantes de energia.

Na praia surgiram os vendedores ambulantes além de um pequeno bar de praia com uma escola de vela, que anos depois viria se tornar o famoso Wind Point Parracho. As noites simples atrás da Igreja foram substituídas por um pouco mais de agito na Rua São Pedro, que passou a ser conhecida como "Bróduei". Os luaus passaram a ser frequentes e em diversos locais, músicos famosos participavam de jam sessions. A lambada virou febre e surgiu o point da dança, o famoso Jatobar, do Maroto. A capoeira começou a ser mais conhecida através do mestre Railson, que anos depois levaria a arte para diversas partes do mundo. O Arraial d'Ajuda começou a ser cada vez mais procurado como destino turístico, ganhando fama internacional.

Wind Point Parracho, anos 90 - foto: Pousada Marambaia

Apesar de já estar no gosto de milhares de brasileiros e estrangeiros, até então não tínhamos no Arraial d'Ajuda nada da tecnologia que já era encontrada no resto do Brasil. Pra começar nem mesmo havia rede telefônica, tínhamos apenas um posto telefônico na Bróduei, sob a escuta de Bel. Bel é uma figura arraiana que, na época, nem mesmo sabia ler e escrever, mas decorava e levava "perfeitamente 😅" os recados aos seus destinatários.

Só na década de 90 que os avanços tecnológicos começaram a chegar por aqui. As pousadas adquiriram telefones e fax... muitas pousadas transformam os seus apartamentos simples em suítes confortáveis com ar condicionado e TV. Foi construído o Parque Aquático e o Campo de Aviação se tornou o Parque Central, onde construíram um posto de saúde, delegacia, mercado popular e áreas esportivas. O antigo campo de futebol se tornou a Praça São Brás. Surgiu o Beco das Cores, primeira galeria do Arraial d'Ajuda (onde antes estava a Pousada das Cores). Foi inaugurado o Café da Mata, um espaço intimista para shows na estrada da balsa e o Wind Point Parracho virou referência em todo Brasil, trazendo para a cidade festas e shows de grande porte. Foi aí que surgiu a famosa Trivela, que começou como um trajeto entre a Praia do Parracho e a Praia da Pitinga em que o trator do Juarez puxava o carro com o Asa de Águia tocando, e que anos depois viria a ser um evento famoso em todo o Brasil.

Praça da Igreja, anos 80 - procurando o autor da foto

Arraial d'Ajuda nos dias de hoje

É claro que o progresso e o crescimento, um tanto sem planejamento, trouxeram alguns problemas para o nosso Arraial, sendo que alguns deles já conseguimos resolver ao longo do tempo, como por exemplo aquelas quedas de energia, hoje são muito menos frequentes. Mas é fato também que o Arraial d'Ajuda foi se diversificando de tal forma que se tornou um destino para todos os estilos, desejos, etnias e nacionalidades.

Compartilhe
Vista do Mirante da Pitinga/Falésias, Arraial d'Ajuda - foto: visitearraialdajuda.com

@visitearraialdajuda

Acompanhe o dia a dia do Arraial através do nosso Instagram!


segue a gente no Insta!
Esse site usa cookies
Nós armazenamos dados temporariamente para melhorar a sua experiência de navegação. Ao continuar navegando em nosso site, você concorda com tal monitoramento.
Política de Privacidade